sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Já pensou se acontecesse?



A última semana gerou discussões calorosas no meio evangélico. O motivo foi a realização do Festival Promessas pela Rede Globo. A maioria das pessoas, claramente, comemorou o fato de a maior emissora do país, conhecida pelo preconceito que sempre teve com os evangélicos, dedicar uma tarde de domingo à exibição de um show realizado no Rio de Janeiro com “grandes nomes” da música gospel nacional. Todos os cantores são contratados da gravadora Som Livre, propriedade da emissora carioca.
O show ocorreu no dia dez (10) de dezembro, quatro dias depois da premiação intitulada Troféu Promessas. E sobre este último que quero me atentar para chegar a uma das razões pelas quais não assisti ao Festival Promessas.
Como todos sabem, o Troféu Promessas tinha como principal proposta “reconhecer o trabalho daqueles que exaltam fielmente o nome de Deus por meio da música”(versão oficial da organização do evento). O problema é que não vejo um bom motivo sequer para que tal premiação seja realizada! Já postei aqui um excelente texto dos meninos do Voltemos ao Evangelho sobre esse tema. Mas, quero compartilhar algo que me ocorreu há alguns dias. Imaginem como seria se um desses cantores fizesse o seguinte pronunciamento ao ser premiado com o troféu:
“Boa noite a todos. Quando eu soube que havia sido indicado para receber esse troféu, alegrei-me bastante e torci para ganhá-lo. Graças a Deus isso acaba de acontecer. Eu desejava ganhar esse troféu em forma de arca da aliança porque somente assim eu teria a oportunidade de subir neste palco para dizer-lhes algumas coisas: nenhum de nós merece prêmio pela ordenança que Deus nos deu. Quando Ele me chamou para entoar hinos para Sua glória, duvido que tivesse como objetivo me fazer estar aqui nesta festa glamorosa, recebendo um troféu de ouro com meu nome escrito nele! Minha música deve evangelizar a partir da sã doutrina! Ele não me chamou para compor canções que incitam à vingança, à vaidade e ao egoísmo. Meus caros amigos, por que não fugimos dos holofotes? Percamos a cara de pau! E deixemos de fingir que participar de concursos sobre disciplinas espirituais, é agradável a Deus! Este troféu que acabo de ganhar, meus caros, será usado para abastecer o campo missionário. Não o quero numa estante! Sabem por quê? Porque não quero alimentar meu ego! Vocês acham que estou exagerando? Então, por que não fazemos concursos para pastores, diáconos ou presbíteros? Ora, se é correto premiar cantores, é também correto premiar essas outras áreas! O problema não é a premiação, meus caros colegas, senão o MOTIVO pelo qual estão nos premiando. Ninguém aqui está recebendo troféu por alguma contribuição social, e sim, pelos seus feitos em prol do Reino!! Isso é ridículo ao extremo.
Gostamos de dizer que a música tem poder evangelizador, mas parece que não lemos a bíblia. Digam-me, em quê passagem está escrito que cantores da casa de Deus devem receber troféus? Digam-me e eu levo este troféu para minha casa e o exponho para mostrar a todos como sou talentoso.
E como eu disse há pouco, gostamos de dizer que a música evangeliza, e eu não duvido disso. Porém, notem as letras que cantamos e ensinamos ao povo de Deus! Se eu digo numa música que quem não me ajudou vai se arrepender logo que me vir no palco, não estou ensinando o Evangelho. Estou distorcendo a mensagem do amor ao próximo, inclusive ao inimigo! Com quê direito dizemos às pessoas que Deus as quer ricas e saudáveis em todo tempo? Com quê direito ensinamos que Deus vive sonhando, quando na verdade o que Ele faz é decretar? Como podemos exigir que Deus restitua o que perdemos? Nossas músicas não ajudam o povo a adorar. Ajudam a despertar um emocionalismo vazio! Vocês não enxergam? Estamos comercializando o que Deus nos deu de graça! Usamos as desculpas mais estapafúrdias para cobrarmos quantias exorbitantes para cantarmos três ou quatro músicas em eventos realizados por igrejas! E o pior, como já disse, essas três ou quatro canções são verdadeiras aberrações teológicas! Gostamos de dizer que cobramos altos cachês porque os custos são altos. Gravar cds e dvds de qualidade custam uma fortuna. Afinal, para Deus deve-se oferecer o melhor! Vocês acham mesmo que Deus está interessado nos super palcos que montamos nos shows gospel que realizamos? Acham que Deus irá nos reprovar se não utilizarmos os mais avançados jogos de luz? Acham que essas coisas resumem o que é oferecer o melhor para Deus?
Nós ainda temos a cara de pau de permitirmos que as pessoas se declarem nossas fãs e até façam fã clubes para nós! Não dizemos nada quando uma pessoa nos vê na rua e age como se fossemos seres de um nível espiritual superior ao dela. Ao invés de exortá-la, nós agimos como isso fosse verdade! Nós deixamos que o povo nos trate como ídolos! Prova disso é o fato de estarmos aqui para recebermos um troféus pelo que devemos fazer como servidão a Deus e à Sua Igreja!
Não, meus caros, eu não sou merecedor deste troféu, porque ele é símbolo de tudo o que acabo de dizer. Ele é símbolo de nossa presunção de nos intitularmos levitas quando não nos cabe esse título!

Eu pergunto-lhes: quê parte do ‘negue-se a si mesmo’ nós não estamos entendendo? Esta premiação é um combustível para nossa vaidade. Para nossa soberba...
Interessante seria se esta noite fosse voltada para arrecadar dinheiro para o campo missionário. Para aqueles homens e mulheres que não ganham troféus e nem querem ganhar. Homens e mulheres que vão aos lugares aonde ninguém quer ir. Eles estão lá pregando o Evangelho da graça, da cruz, do perdão a quem nos fez mal. Não o Evangelho dos sonhos, ou das vitórias, das determinações, dos atos proféticos.
Vocês sabiam que um rabino jamais aceitaria um troféu pela obra que realiza em sua religião? Da mesma forma agiria um sacerdote hindu ou monge tibetano. Até mesmo um médium como Chico Xavier! Ou seja, nem aqueles que chamamos de ímpios aceitariam uma premiação como esta de que estamos sendo alvos.
Chamem-me do que quiserem. Amaldiçoem-me se acharem necessário. Sei que é isso que nossas canções têm ensinado!
Que Deus desperte em nós o sentimento de vergonha! Vergonha por ensinar o povo a ter uma fé voltada para o visível, palpável, pirotécnico. Esquecendo-nos que as Escrituras nos dizem que a fé vem pelo OUVIR e o OUVIR a PALAVRA DE DEUS. Parem de ensinar o povo a buscar experiências visuais para fortalecer sua fé! Parem de cantar: Abra os meus olhos. Dá-me a visão. Eu preciso ver. Eu quero ver...!’ A fé nada tem a ver com visões! Não ensinem o povo a mergulharem em sincretismo!
Um evangelho falso está ensinado e vocês acham que merecemos prêmios por isso!! Voltemos à piedade, à humildade e simplicidade que nos é mostrada nas Escrituras. E quando fizer isso, certamente não nos convidarão para recebermos troféus de ouro. Não nos verão como instrumento de lucro. Nos verão como problemas, incômodos! Já não seremos populares. E quando cantarmos diante de um público, não será um show, mas um momento de culto RACIONAL ao único digno de toda honra, glória e louvor. E já não pensaremos que somos porta-vozes do Céu!”


Será que um dia isso pode vir a acontecer? Ao contrário do que muitos desejam a nós que criticamos o evangelicalismo brasileiro, não, não queremos ver essas pessoas pagando pelo que fazem ao Evangelho. Nem que nos peçam perdão pelas palavras duras e ofensivas que utilizam contra nós, mas queremos que compreendam o Evangelho e um digam algo como esse cantor do texto disse.
Pense nisso!
Que Deus nos ajude!