terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sabor de Mel- a novela mexicana dos crentes!





O agir de Deus é lindo
na vida de quem é fiel.
No começo tem provas amargas,
mas no fim tem o sabor do mel.
Eu nunca vi um escolhido sem resposta,
porque em tudo Deus demonstra uma solução.
Até nas cinzas ele clama e Deus atende.
Lhe protege, lhe defende com as Suas
fortes mãos.
Você é um escolhido e tua
história não acaba aqui.
Você pode estar chorando agora,
mas amanhã você irá sorrir.
Deus vai te levantar das cinzas
e do pó.
Deus vai cumprir tudo o que tem
te prometido.
Você vai ver a mão de Deus te exaltar.
Quem te ver há de falar:
- Ele é mesmo o escolhido!

Vão dizer que você nasceu pra vencer.
Que já sabiam porque você tinha
mesmo cara de vencedor.
E que se Deus quer agir, ninguém
pode impedir.
Então você verá cumprir cada
palavra que o Senhor falou.

Pré Refrão

Quem te viu passar na prova e não te ajudou,
quando ver você na bênção vai se arrepender.
Vai estar entre a plateia e você no palco.
Vai olhar e ver Jesus brilhando em você.
Quem sabe no teu pensamento você vai dizer:
-Meu Deus, como vale a pena a gente ser fiel.
Na verdade, minha prova tinha um gosto amargo.
Mas vitória, hoje, tem sabor de mel.

Refrão

Tem sabor de mel.
Tem sabor de mel.
A minha vitória, hoje, tem sabor de mel.
Tem sabor de mel.
Tem sabor de mel.
A minha vitória, hoje, tem sabor de mel.



Antes de qualquer coisa, quero dizer que não estamos perseguindo a Damares (risos). Mas, infelizmente, suas músicas merecem uma atenção da Igreja e, não é a atenção que muitos têm dado.
Há alguns anos eu ainda era muito imaturo na fé. Hoje estou mais maduro, entretanto, graças a Deus, ainda há muito que aprender. Muito mesmo. Porém, acho que dá para compartilhar o que já aprendi através da paixão que desenvolvi pela doutrina reformada. E se há uma coisa que é amplamente defendida pela Reforma é: O homem não tem méritos! Tudo gira em torno de Deus. Tudo é para Deus.
Mas a Igreja falha seriamente nesses pontos- a tal música “Sabor de Mel” era para mim como um canto de guerra. Quando a conheci, meu namoro havia terminado. Bem, vocês sabem como é (risos). “Sabor de Mel” caiu como uma luva para mim, que estava tão tristonho por causa da garota que tinha me deixado. Todavia, algo me incomodava quando escutava essa canção: “Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na bênção vai se arrepender. Vai estar entre a plateia e você no palco...”. Esse trecho me soava esquisito. – Isso está certo? Pensava eu. E realmente não está! Mas, vamos deixa-lo para depois.
Lecionando para os jovens na EBD, critiquei as músicas que são cantadas atualmente nas igrejas. Citei “Um novo Vencedor”, também da Damares. Houve quem dissesse: “Que coisa. Eu sempre achei essa música muito bonita, mas realmente, prestando atenção na letra, isso não está certo”. Mas houve também quem dissesse: “Ah, para mim a letra de uma música é muito relativa em termos de interpretação. Eu não vejo essa letra como você. Para mim, conta a história de alguém que Deus honrou. Achei o clipe lindo”. Bem, eu tive que concordar com ela sobre a relatividade na interpretação da letra de uma música. Porém, há certas canções que não abrem discussões quanto à intenção de sua mensagem. Ou seja, basta ouvir a música uma vez para fazer a interpretação do seu conteúdo. Por exemplo: Alguém acha que o refrão do clássico hino “Quão grande és Tu” se refere à estatura de Deus? Lembro-me de uma música, feia para caramba, que fez muito sucesso no Brasil no fim dos anos 1990. O refrão dizia: “Mexe a cadeira. Menina, mexe a cadeira”. Eu era uma criança, e pensava que o cara estava mandando a menina mexer uma cadeira em sentido literal. Qualquer pessoa podia ouvir a música e entender que a “cadeira” eram os quadris, e não o objeto para sentar-se. Não há como discutir isso. A mesma coisa acontece com as músicas “Um novo Vencedor” e “Sabor de Mel”! Mas, atentemo-nos à segunda no momento.
Logo no início, a música diz: “No começo tem provas amargas, mas no fim tem o sabor do mel”. Eu fico me perguntando quê “começo” e “fim” são esses? Será que ela está falando da vida na Terra e a eternidade no Céu, respectivamente? O contexto evidencia que não é a isso que se referem os termos destacados. As duas orações a seguir corroboram essa assertiva: “Eu nunca vi um escolhido sem resposta, porque em tudo Deus demonstra uma solução”. Ora, se está falando de “resposta” e “solução”, está claro que o sabor de mel que o crente “vai experimentar”, será na Terra mesmo. Todo o contexto da música concorda com isso.
Se o “começo” não se refere à vida terrena, e o “fim” à vida na eternidade com Deus, a que se referem então? Eu creio sinceramente que se referem a momentos difíceis que o cristão experimenta enquanto vive na Terra. Tendo isso em vista, a canção ensina que, mesmo passando por sérios problemas, chegará o momento em que desfrutaremos da vitória, ou seja, a resolução desses problemas, efetuada por Deus. Porém, não é esse o ponto problemático da música; pelo menos, não o mais grave. O que é completamente antibíblico está a seguir: 1- A música é antropocêntrica; 2- A música incita o crente à vingança; 3- A música deturpa o sentido de amor ao próximo.
“Sabor de Mel”, assim como muitas canções interpretadas atualmente no meio evangélico, é voltada para o HOMEM (ser humano). Deus só aparece como aquele que resolve os problemas das pessoas. Ele vive só para isto: nos ajudar, nos curar, nos abençoar, destruir nossos inimigos, nos dar vitória em todo momento e executar quaisquer outras ordens que Lhe dermos.
Sabem o que isso me lembra? Aqueles enredos dramáticos das novelas mexicanas! Nestas, sempre há uma protagonista pobre, sofredora, que ninguém ajuda; no entanto, acontece algo incrível: ela (sabe Deus como) se torna multimilionária, casa-se com o galã, vive feliz e quem não a ajudou se arrepende ao ver que ela enriqueceu. “Sabor de Mel” tem o mesmo enredo dramático e murmurador! Por isso eu gostava tanto dessa música no passado. Afinal, eu acabara de passar por um momento difícil e, ao invés de dar graças a Deus, como me ensina Sua Palavra (Ef 5, 19-21), murmurei e procurei consolo numa música que não oferece, em momento algum, glória ao Deus Perfeito, Soberano e Justo.
Obviamente, certos problemas são muito difíceis de serem enfrentados. Com certeza não é fácil ter um caso de doença grave na família, morte de alguém muito amado, estar desempregado quando se tem muitas bocas para alimentar, e tantos outros exemplos. No entanto, o Soberano é incrível! Ele nos concede consolo, conforto e, inclusive, alegria, durante esses momentos. Ele nos ensina, de maneira impressionante, a amá-Lo, engrandece-Lo, adorá-Lo quando um ser humano comum reclamaria, murmuraria, se revoltaria com tudo e todos. De quê forma Ele nos ensina isso? Através de Sua Palavra! E esta não corrobora com a letra de “Sabor de Mel”, que transforma certas verdades bíblicas em texto de autoajuda. Trechos como- “Quem te ver há de falar: - Ele é mesmo o escolhido! Vão dizer que você nasceu pra vencer. Que já sabiam, porque você tinha mesmo cara de vencedor”- deixam isso mais do que claro! O conceito de “vencedor” defendido pela música não é, em nenhum aspecto, o conceito de “vencedor” descrito na bíblia. Na Palavra de Deus, a declaração “somos mais que vencedores”, feita pelo apóstolo Paulo em Romanos 8,37, refere-se à salvação do homem. O contexto nos esclarece. Paulo não está falando sobre prosperidade, saúde perfeita ou vitórias terrenas contínuas. Analise os versículos anteriores e posteriores ao verso trinta e sete (37)! Se Paulo está falando de Salvação na passagem descrita, o “vencedor” de “Sabor de Mel” também? Não acredito! Na música, o tal “vencedor” é aquele que passou por momentos difíceis, que ninguém queria ajudar e que agora está no palco. Ou seja, agora está em evidência. Alguns dizem que já sabiam que isso aconteceria com ele, visto que ele tinha cara de vencedor. Outros, porém, como foi dito, não o ajudaram quando passou pela “prova”. Não acreditavam que ele venceria. Agora, estão na plateia, arrependidos, porque poderiam também estar no palco, em evidência, em êxito. E olha que interessante! O cristão é motivado pela música a pensar: “Ahá, agora eu estou no palco. Jesus está brilhando em mim. Eu fui fiel! E eles, que não me ajudaram, se arrependeram!! Hahaha. Ninguém mandou não me ajudar. E olha que eu sempre tive cara de vencedor”.
Esta canção ensina que o crente fiel estará no “palco”- que só pode se referir a sucesso, fama e status. É aquela ideia da barganha. “Se eu orar, jejuar, ir à igreja, dizimar(o mais importante), cantar no coral e outras coisinhas, Deus não terá outra saída, senão me conceder a bênção, a vitória com sabor de mel!” Ou seja, o cristão não deve orar, jejuar, ir à igreja por amor a Deus e para aprender com Ele! O cristão não deve fazer essas coisas ansiando a eternidade com Jesus, mas ansiando a recompensa terrena! Recompensa esta, que alguns não receberão, porque não ajudaram (eu gostaria de saber que ajuda é essa) o crente!
Outra coisa muito estranha nessa música é a ideia de que “devemos ajudar as pessoas para não perdermos a bênção- na terra, é claro”. É bastante semelhante ao conceito de “caridade” das celebridades. Normalmente, os artistas participam de uma série de campanhas com caráter humanitário. Eu pergunto: será que todos eles participam porque se preocupam com a causa defendida? Claro que não! A maioria entra nessa pelo fato de ser benéfico para a carreira. Para alimentar a imagem de boa pessoa. “Sabor de Mel” nos ensina a agir exatamente assim! “Ajude, porque sua imagem com Deus melhora”. Ensina que nossas boas obras funcionam como ação e reação; “eu ajudo meu irmão e Deus me dá a vitória com sabor de mel”! O cristão não pode dar ponto sem nó. Tudo deve visar um benefício.
O Evangelho não ensina essas coisas. O Jesus do Evangelho puro e simples, ora por quem Lhe fez mal. Não pede ao Pai por vingança, mas Lhe pede que perdoe, porque não sabem o que fazem! O Senhor não me ensina a murmurar, a decretar, determinar, ou fazer drama, me ensina que a Graça (favor imerecido) me basta. Graça esta, alcançada unicamente pelo sacrifício de Jesus. Agora, posso ter meus pecados perdoados sem fazer sacrifícios. Agora, não há véu, tabernáculo, sacerdote, que me separe do Santo dos Santos.
Rejeito “Sabor de Mel” como música que agrada a Deus! Esta música agrada aos ouvidos do homem mimado, que vê Deus como Papai Noel ou como roteirista de novela mexicana.
Não tenho nada contra a cantora. Entenda isso! Porém, suas músicas contêm mensagens antropocêntricas. E é função da Igreja cantar sobre Deus, para Deus; ainda que cantemos sobre coisas que Ele fez por nós, como nos salvar.
Músicas como essas são apenas reflexos do evangelho humanista, deturpado e venenoso pregado na maioria das igrejas “evangélicas” do Brasil e do mundo. “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” 2 Timóteo 4:1-4
Nunca esqueça que o verdadeiro arrependimento produz no ser humano o desejo de se auto anular, a fim de oferecer ao Senhor toda honra e glória!